Uma pesquisa divulgada pela Genial/Quaest em 8 de junho de 2025 revela uma mudança significativa no comportamento do eleitorado de baixa renda, tradicionalmente alinhado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo o levantamento, o apoio de eleitores que ganham até dois salários mínimos tem diminuído, enquanto candidatos da direita vêm ganhando espaço nesse segmento.
Entre março e maio deste ano, sete dos oito nomes de oposição testados pela pesquisa registraram crescimento entre os mais pobres. Em um eventual segundo turno entre Lula e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), por exemplo, a vantagem do petista caiu de 38 para 20 pontos percentuais: Lula recuou de 52% para 49%, e Tarcísio avançou de 27% para 29%.
Especialistas atribuem essa tendência a diversos fatores. A crescente influência de líderes religiosos evangélicos — grupo que representa 26,9% da população brasileira segundo o Censo de 2022 — tem sido decisiva. A direita tem se aproximado dessa parcela com discursos pautados em valores cristãos, meritocracia e a chamada teologia da prosperidade, que valoriza o esforço individual e a superação pessoal.
Além disso, a desaprovação do governo Lula alcançou níveis elevados, impulsionada pela percepção de estagnação econômica, inflação persistente e aumento nos preços de alimentos. Esse cenário contribui para a insatisfação de uma base que, embora ainda majoritariamente petista, tem demonstrado abertura a novos discursos.
O sociólogo Jessé Souza destaca que essa guinada conservadora também pode ser explicada pela falta de uma narrativa clara sobre os processos de empobrecimento vividos desde 2016. Segundo ele, a ausência de uma explicação estruturada sobre a crise abre espaço para discursos que colocam a culpa em minorias e reforçam valores tradicionais como forma de dar sentido à frustração social.
Apesar da retração, Lula ainda lidera entre os mais pobres: 28% se dizem petistas ou lulistas, frente a 23% que se identificam com a direita, incluindo bolsonaristas. O cenário, no entanto, mostra um equilíbrio maior e desafia o PT a reconectar-se com seu eleitorado histórico em meio à crescente competitividade no campo popular.