RIO DE JANEIRO – O Brasil registrou um aumento preocupante no trabalho infantil entre crianças de 5 a 9 anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) analisados pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal. Após uma redução de 24% em 2023, o número de crianças nessa faixa etária em situação de trabalho infantil subiu 22% no ano passado, chegando a 122 mil.
A Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, que atua pela primeira infância, aponta que o percentual de crianças de 5 a 9 anos submetidas ao trabalho infantil foi o maior já registrado na série histórica iniciada em 2016. Em 2024, elas representavam 7,39% da população nessa faixa etária, superando o pico de 6,97% alcançado em 2022.
A CEO da Fundação, Mariana Luz, classificou o cenário como “inaceitável” e ressaltou que o trabalho infantil compromete o desenvolvimento e o futuro dessas crianças, reforçando desigualdades sociais. Ela atribui parte do aumento à inserção de famílias de baixa renda no mercado de trabalho informal.
Desigualdade racial e metas da ONU
A análise dos dados revela que o trabalho infantil afeta desproporcionalmente crianças negras no Brasil. Enquanto crianças pretas e pardas representam 66% da faixa etária de 5 a 9 anos, elas correspondem a 67,8% das crianças em situação de trabalho infantil.
“Isso revela, de forma cristalina, uma falha estrutural gravíssima do país: onde existe pobreza, invisibilidade social e racismo, as crianças negras são as que mais sofrem”, afirmou Mariana Luz.
Apesar da alta nessa faixa etária, o número geral de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos em situação de trabalho infantil cresceu apenas 2% de 2023 para 2024, mas teve um recuo de 21,4% em oito anos. A situação do Brasil ainda está longe de alcançar a meta da ONU de erradicar todas as formas de trabalho infantil até 2025.
Redução das piores formas e impacto do Bolsa Família
Um dado positivo apontado pelo IBGE é a redução recorde do trabalho infantil nas chamadas Piores Formas (Lista TIP), que incluem atividades perigosas e insalubres. O contingente de crianças e adolescentes nessas atividades caiu 39% em relação a 2016, totalizando 560 mil pessoas em 2024.
O estudo também mostrou uma diminuição na diferença de trabalho infantil entre famílias que recebem o programa Bolsa Família e a população em geral. Nos domicílios assistidos, o percentual de crianças e adolescentes nessa situação é de 5,2%, enquanto na média nacional é de 4,3%. A diferença, que era de 2,1 pontos percentuais em 2016, caiu para 0,9 em 2024.
Para denunciar casos de trabalho infantil, a população pode ligar para o Disque Direitos Humanos (Disque 100), um canal gratuito.
Fonte: Agência Brasil