Ciência Brasileira Avança: Exame de Sangue Promete Diagnóstico de Alzheimer para o SUS
Pesquisa nacional confirma proteína p-tau217 como biomarcador de alta confiabilidade, facilitando a detecção precoce da doença e visando a aplicação em larga escala na rede pública de saúde.
Por Administrador
Publicado em 17/10/2025 10:49
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Diagnóstico precoce do Alzheimer, usando a proteína p-tau217 como biomarcador de alta precisão. O objetivo é levar a tecnologia para o SUS. (Foto: Louis Reed/Unsplash)

Estudos recentes conduzidos por cientistas brasileiros confirmaram o potencial de um simples exame de sangue para o diagnóstico da Doença de Alzheimer. As análises destacam o excelente desempenho da proteína p-tau217 como o principal biomarcador capaz de distinguir, por meio do sangue, indivíduos saudáveis de pessoas com a doença. O objetivo das pesquisas, que contam com o apoio do Instituto Serrapilheira, é integrar esses achados ao Sistema Único de Saúde (SUS) para uso em larga escala.

 

Desafio do Diagnóstico no Brasil e a Importância da Inovação

 

Eduardo Zimmer, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e um dos líderes do estudo, aponta os desafios atuais do diagnóstico no país. Atualmente, os métodos de confirmação envolvem o exame de líquor – um procedimento invasivo que exige punção lombar – e a tomografia (exame de imagem). Ambos são caros e dependem de infraestrutura e experiência, como a de um neurologista. "O problema é que quando pensamos num país como o Brasil, continental, com 160 milhões de pessoas que dependem do SUS, como vamos fazer esses exames em larga escala? Uma punção lombar necessita de infraestrutura, experiência... Já o exame de imagem é muito caro para usar no SUS em todo o país”, afirmou Zimmer à Agência Brasil.

 

Alta Confiabilidade e Dupla Confirmação

 

A pesquisa, assinada por 23 especialistas, incluindo oito brasileiros, analisou mais de 110 estudos envolvendo cerca de 30 mil pessoas, reforçando que a p-tau217 no sangue é o biomarcador mais promissor para o Alzheimer. Os resultados em 59 pacientes brasileiros apresentaram uma alta confiabilidade, acima de 90%, quando comparados ao "padrão ouro" (exame de líquor), nível recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

 

O estudo obteve resultados notáveis, especialmente porque, em paralelo, um grupo de pesquisadores do Instituto D’Or e da UFRJ, incluindo os professores Sérgio Ferreira, Fernanda De Felice e Fernanda Tovar-Moll, chegou a resultados praticamente idênticos. Zimmer destacou a relevância dessa convergência: “São duas regiões diferentes do país, com genética e características socioculturais completamente diferente e o exame funcionou muito bem”.

Fatores de Risco e Próximos Passos para o SUS

 

O diagnóstico precoce da doença é um desafio global, afetando cerca de 57 milhões de pessoas no mundo, sendo 1,8 milhão no Brasil. A previsão é que este número triplique até 2050. No estudo, os cientistas brasileiros também identificaram que baixa escolaridade acentua o risco, reforçando que fatores educacionais e socioeconômicos impactam o envelhecimento cerebral. “A baixa escolaridade é um fator de risco muito importante para o declínio cognitivo, ficando acima de idade e sexo. O primeiro lugar disparado é a baixa escolaridade [no Brasil]”, ressaltou Zimmer.

 

O exame de sangue já é uma realidade na rede privada, sendo oferecido por testes estrangeiros que chegam a custar até R$ 3,6 mil, o que sublinha a necessidade de uma alternativa nacional e gratuita. Zimmer explicou que a inclusão no SUS exige planejamento e várias avaliações para entender se o exame terá a performance necessária, e qual estratégia e logística serão aplicadas. Os resultados definitivos dos estudos são esperados em cerca de dois anos. A pesquisa será expandida para indivíduos com mais de 55 anos, buscando mapear a fase pré-clínica da doença. O estudo completo foi publicado na revista Molecular Psychiatry e reforçado pela Lancet Neurology.

Fonte: Agência Brasil

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